sábado, 18 de janeiro de 2014

Primeira volta - Balanço


Classificação da Liga Zon Sagres à 15ª jornada
Completou-se a 15ª jornada e atingiu-se um marco sempre significativo em qualquer temporada futebolistica. Acabou a primeira volta do campeonato. E não podia acabar de melhor forma para as gentes do futebol, com um clássico entre os dois principais candidatos ao título nacional, Benfica e Futebol Clube do Porto, marcado para um Domingo à tarde, a fazer lembrar outros tempos. 
A primeira volta fechou com um Clássico carregado de emoção
O jogo acabou por não ser de grande qualidade mas mostrou bem aquilo que estas duas equipas têm sido ao longo da primeira metade do campeonato. Ganhou o Benfica e, com isso, isolou-se no comando da Liga de forma algo natural. Os encarnados entraram mal na prova, ainda abalados pelas derrotas do final da época passada que teimava em não desaparecer da memória mas, com o tempo, foram-se libertando da pressão acumulada e conseguiram deixar para trás a fatídica época de 2012/2013 para entrarem, definitivamente na corrente temporada. É verdade que continuam a não apresentar um futebol deslumbrante mas têm conseguido, com maior ou menor dificuldade, somar vitórias e, assim, encetar uma boa campanha. Chegaram a estar com 5 pontos de desvantagem face ao líder do campeonato mas estão em crescendo e dobram a prova com 2 de vantagem sobre o segundo classificado. E o clube que ocupa a segunda posição não é o Futebol Clube do Porto mas sim um surpreendente Sporting que, em época de contracção de gastos, consegue-se apresentar bem acima daquilo que, à partida seria esperado. Os leões têm sido uma equipa com uma regularidade impressionante, mostrando, a espaços, um futebol de grande qualidade. No papel, nem parece ser uma grande equipa mas Leonardo Jardim, o seu treinador conseguiu com que seja uma equipa que, deprivada de grandes estrelas, consegue enaltecer o seu colectivo em deterimento do individual e jogar de uma forma muito coesa a defender e eficiente a sair para o ataque, sempre sem complicar. Não espanta, assim, que possua a melhor defesa e o melhor ataque do campeonato. É a grande surpresa da prova e parece mostrar, com cada jornada que passa, que irá levar a luta pelo título até ao fim. 
Jardim e Jesus olham para o título nacional.
Logo atrás, com menos um ponto, surge o Futebol Clube do Porto, crónico candidato ao título nacional. Os tricampeões, apesar de apenas a 3 pontos do primeiro lugar, têm sido uma desilusão. O clássico na Luz do fim de semana passado foi o espelho do que tem sido a época dos dragões que até começaram bem, a destacar-se cedo na liderança. Contudo, nunca apresentaram um futebol convincente e a equipa parece perder confiança de jogo para jogo, espantando até, observar a enorme quantidade de erros defensivos que se vão tornando comuns em todos os seus jogos. Isto, naquele que é considerado o seu melhor sector e onde o Porto é tradicionalmente forte. A equipa tem vindo a perder gás de forma muito evidente e, com isso, a perder pontos e lugares na classificação. O seu treinador, Paulo Fonseca, perdido entre variações do seu tradicional 4-3-3, parece ainda procurar a melhor forma de jogar o que, à 15ª jornada, é preocupante. Os seus adeptos não gostam do que vêm e com isso, aumentam a pressão sobre a equipa. Será difícil a Paulo Fonseca recuperar a confiança que se vai perdendo mas, se não o fizer, corre o risco de chegar às últimas jornadas afastado da discussão pelo título nacional, o que não acontece no reino do Dragão à algum tempo.
Paulo Fonseca terá de repensar o seu FC Porto
Saltando da luta pelo título para a discussão pela qualificação para as competições europeias, surgem algumas boas equipas. Olhando para a classificação, logo salta à vista que o Braga não ocupa nenhum destes lugares. Os arsenalistas habituaram-nos a ver, nas ultimas 5 temporadas, uma equipa a lutar pela qualificação para a Liga dos Campeões e até pelo título nacional mas um inicio titubeante colocou-os muito cedo fora dessa corrida. Após uma sequência de várias derrotas seguidas, a equipa parece ter encontrado o seu equilíbrio e tem encetado uma recuperação notável, galgando lugares na tabela e acabando a primeira volta num sétimo lugar que a coloca na luta pelos lugares que dão acesso à Liga Europa. Não deixa de ser uma das grandes desilusões da primeira volta mas o seu crescendo de forma parece mostrar que será uma das boas equipas da segunda volta. Acima de si estão as outras equipas que se assumem candidatas aos tais lugares europeus, o seu vizinho Vitória de Guimarães, o surpreendente Nacional da Madeira e o Estoril. Se os dois primeiros se têm revelado boas surpresas, muito por fruto de mais um excelente trabalho dos seus treinadores, Rui Vitória e Manuel Machado, respectivamente, já o Estoril está a confirmar que a brilhante época realizada em 2012/2013 não foi fruto do acaso. É uma equipa estável, muito bem liderada, que se soube reinventar a colmatar bem a saída de 4 das suas principais figuras e que, apesar do seu historial e dimensão indicarem o contrário, dificilmente se poderá considerar uma surpresa. Ainda falta muito campeonato mas tudo indica que a luta pela Europa se fará entre estas 4 equipas.
Marco Silva conduz o Estoril a mais uma época memorável
Logo abaixo na classificação, nota-se já o aparecimento de um pequeno fosso, a partir do qual aparece o habitual maranhal de equipas que é composto por quem luta pela manutenção e aspira a fazer uma época tranquila, casos de Gil Vicente, Académica e Vitória de Setúbal, e por quem se tem mostrado aquém de objectivos mais elevados, assumidos no inicio do ano futebolistico. Destas, é impossível não destacar o Marítimo, uma das maiores desilusões da temporada. Os madeirenses aparecem num 11º lugar muito distante do seu objectivo. Quem os vê jogar depressa repara que são uma equipa que pratica bom futebol ofensivo mas que é demasiado leve a defender. Os seu saldo de golos mostra isto mesmo. São a equipa com mais golos marcados a seguir aos três grandes mas possuem, ao mesmo tempo, 28 golos sofridos, número apenas inferior ao do último classificado. Pelo meio, encontramos também um Rio Ave que é uma meia desilusão. É verdade que procura apenas fazer uma época tranquila mas parece ter equipa para mais. Ainda está a tempo e pode ser uma das boas surpresas da segunda volta.
Os jogos do Marítimo são sinónimo de golos...para qualquer dos lados.
Na cauda da tabela, quatro equipas em luta acesa pela manutenção. Destas, há que destacar o Arouca, ainda a mostrar falta de experiência nestas andanças, a verdade é que os estreantes têm vindo a melhorar e já estão mais perto da chamada zona tranquila do que da linha de água. São, no entanto, uma equipa muito inconstante. Abaixo destes encontramos o Belenenses, um pouco aquém das expectativas. É verdade que regressaram esta época à Primeira Liga mas, após vencer a Segunda Liga de forma ímpar, com vários pontos de avanço sobres os adversários, e com um plantel reforçado, pareciam ser candidatos a uma presença no meio da tabela. Os azuis apresentam um futebol agradável mas, ao mesmo tempo, uma grande dificuldade em concretizar, possuindo o pior ataque do campeonato, com apenas 9 golos marcados em 15  jogos. Aproveitaram a corrente reabertura do mercado de transferências para reforçar o seu sector ofensivo e, caso melhorem neste aspecto, podem fazer uma segunda volta bem mais tranquila. Abaixo da linha de água, estão aquelas que se têm apresentado, de forma bastante clara, como as piores equipas do campeonato. A um Olhanense muito descaracterizado, incapaz de se encontrar e que já vai no terceiro treinador da época, junta-se a maior desilusão da temporada, o Paços de Ferreira. Os castores realizaram a melhor época da sua história em 2012/2013 mas não conseguiram resistir ao assalto feito aos seus valores. Perderam praticamente todos os seus melhores jogadores e até a equipa técnica e, apesar de terem conseguido montar uma equipa com nomes relativamente sonantes, não conseguem apresentar um futebol competitivo. Agora treinados por Henrique Calisto, uma velha raposa destas andanças do fundo da tabela, têm ainda tempo de conseguir a manutenção mas precisam de melhorar muito, principalmente a nível defensivo.
Henrique Calisto tem pela frente uma tarefa titânica para salvar o Paços.

Começa assim a segunda volta do campeonato com muito equilíbrio em todas as diferentes lutas que o compõem. São 15 jornadas pela frente. Tempo mais do que suficiente para se mudar o que está mal e manter o que está bem. O campeonato promete, se não pela sua grande qualidade futebolistica, pelo menos pela sua indefinição. Será assim até ao fim? 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A Bola de Ouro 2013

A Bola de Ouro, prémio máximo para um jogador de futebol
Muito se tem falado, nos últimos meses, acerca da atribuição do prémio da Bola de Ouro, referente ao melhor jogador a nível mundial, de 2013. A razão é simples. Este prémio, o de maior prestigio a nível individual do futebol mundial, tem sido alvo de alguma polémica nos últimos anos, quase sempre referente à atribuição sucessiva ao argentino Messi, com o português Cristiano Ronaldo a ficar sucessivamente em segundo lugar. A verdade é que a discussão teria sempre de ser relativa a estes dois jogadores, ambos num nível estratosférico quando comparados com qualquer outro jogador actual. A atribuição ao argentino tem sido indiscutível em algumas edições do troféu mas nem sempre. Existiram edições em que Ronaldo parecia ser o favorito mas viu o prémio fugir, sempre para Messi. Isso chegou mesmo a gerar desconforto no capitão da selecção nacional, algo revelado publicamente pelo mesmo. Mas a edição de 2013 seria um pouco diferente das anteriores. 2013 não foi um grande ano para Messi. É verdade que o seu Barcelona venceu o campeonato espanhol e que o astro argentino até foi o melhor marcador do campeonato espanhol de 2012/2013 mas a Bola de Ouro não é referente a épocas futebolisticas mas sim a anos civis e, considerando apenas o ano de 2013, Messi apresentou-se a nível inferior ao que tinha habituado os fãs de futebol e viu Cristiano Ronaldo ultrapassar-lhe em praticamente todos os registos individuais. Estava visto que seria o ano de Ronaldo. Mas a discussão acabou alargado a um terceiro elemento, o francês Franck Ribery, estrela maior de um Bayern de Munique que venceu tudo o que havia para vencer, impressionando de forma particular com o seu desempenho na Champions League, prova raínha de clubes. O francês recebeu o apoio de diversas personalidades, das quais se destaca o presidente da UEFA, o também francês Michel Platini e chegou a ser visto como grande favorito, capaz de quebrar a discussão Ronaldo/Messi para o troféu. Mas a votação da Bola de Ouro não é efectuada pela UEFA nem pela FIFA. Os votos para a atribuição do prémio vêm de outro lado. Cada país filiado no organismo que gere o futebol mundial tem direito a 3 participações, cada uma distribuindo um total de 9 pontos, 5 para o primeiro classificado, 3 para o segundo e 1 para o terceiro. Essas participações são feitas pelo capitão da selecção de cada país, pelo seu seleccionador nacional e por um jornalista acreditado para o efeito. A votação foi feita, os votos foram contabilizados e a Bola de Ouro de 2013 foi atribuida a Cristiano Ronaldo, com 27,99% dos votos. Messi, com 24,72% acabou por ficar em segundo lugar e Ribery em terceiro, com 23,36%, não tendo conseguido intrometer-se na luta titânica entre os dois melhores jogadores mundiais dos últimos 7 anos. Mas um outro Tabu foi quebrado. Provou-se que não é necessário vencer qualquer troféu colectivo para vencer a Bola de Ouro o que incomodou visivelmente Platini.
Ribery, Ronaldo e Messi, os três candidatos ao troféu de 2013
A justiça na atribuição do prémio é indiscutível. Ronaldo foi o melhor jogador de 2013, recebeu a Bola de Ouro e esta atribuição peca apenas por tardia. Cristiano Ronaldo consegue assim a sua segunda Bola de Ouro, a quarta para o futebol português, o que não deixa de ser um feito notável para um país tão pequeno. Parabéns, Ronaldo!
Ronaldo, emocionado, recebe o prémio

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Fonseca metido num 8

Paulo Fonseca não gostou das criticas às exibições da sua equipa
“Não passamos do 80 para o 8”. Foi com esta frase que Paulo Fonseca, treinador do FC Porto, respondeu às criticas que foram dirigidas às exibições da sua equipa após alguns jogos menos conseguidos. Com efeito, os jogos contra Áustria de Viena e Estoril não corresponderam às expectativas dos adeptos e mesmo grande parte do último jogo disputado para o campeonato, frente ao Vitória de Guimarães deixou algo a desejar. Ganhou dois desses três jogos mas de forma tangencial e o empate com o Estoril, casos de arbitragem à parte, não poderia parecer mais justo. A verdade é que o FC Porto começou muito bem a época, com exibições portentosas no jogo da Supertaça e em casa com o Marítimo, esta última inflacionada pelo facto de os madeirenses terem batido o Benfica apenas uma semana antes. Mas, desde essa altura e apesar de coleccionar vitórias, foi perdendo qualidade de jogo.
Fernando tem apresentado algumas dificuldades a jogar com alguém a seu lado

A expressão usada por Paulo Fonseca não deixa de ser curiosa até porque é exactamente no número 8 que está a grande diferença da época anterior para esta e talvez a origem do problema actual. Desde que assumiu o comando do FC Porto, Paulo Fonseca tem trabalhado para imprimir o seu cunho pessoal ao futebol praticado. A equipa continua a apresentar-se no seu tradicional 4-3-3 mas joga de forma diferente quando comparada com as duas últimas épocas, à altura comandada por Vítor Pereira. Não está tão obcecada com a posse de bola e pratica um futebol mais rápido, utilizando mais as faixas laterais para chegar com maior velocidade à baliza adversária. Os extremos têm, assim, apresentado maior relevância no jogo colectivo da equipa, sendo mais vezes chamados a cruzar bolas ou até a aparecer na área para finalizar.Mas é no meio campo que se nota a maior diferença. Continua, no papel, a apresentar um meio campo a 3 mas deixou de apresentar um número 8 bem definido e joga agora com um duplo pivot defensivo. Este duplo pivot tem a missão de controlar as movimentações adversárias nesta zona do terreno mas também de sair com a bola controlada e envolver-se de forma clara no movimento ofensivo da equipa. Para isso, um dos jogadores da dupla, de forma mais ou menos alternada, sai do seu lugar recuado e assume a tal posição 8 que estava vaga, aparecendo bem mais à frente a combinar com quem quer que conduza a bola ou até mesmo a assumir a própria condução de jogo. Nestas funções, Defour parece estar mais confortável mas Fernando mostra dificuldades. O brasileiro não tem caracteristicas para pegar no jogo. É um recuperador nato que quando tem a bola a sabe entregar com qualidade mas não é especialista na condução. Além disso, está menos eficaz a defender parecendo até algo perdido em campo, o que é estranho para um jogador que faz do posicionamento a sua principal arma. Ao vê-lo jogar nestas condições, lembro-me sempre de Redondo, trinco do Real Madrid dos anos 90, que dizia que colocar outro trinco a seu lado é como tapar um dos seus olhos. Mesmo Defour não está a corresponder como esperado. Sabe defender a dois e aparecer à frente mas não é dotado o suficiente para fazer a diferença. É um jogador de equilíbrios e o que se pede nesta função, quando sai da sua posição recuada, é que apareça a desequilibrar.
Onze do FC Porto contra o Vitória de Guimarães

Paulo Fonseca parece já ter reparado nisto e tentou utilizar outros jogadores nesta posição. O primeiro a aparecer foi Josué mas pareceu ainda mais desenquadrado do jogo. Apesar de saber conduzir a bola não sabe defender como o belga e acaba por abanar a solidez do meio campo. Com menos recuperação, há menos bola e o seu bom jogo ofensivo acaba por sofrer com isso. Além disso,  é um jogador que gosta de percorrer caminhos mais adiantados e, nesta posição, é obrigado a passar mais tempo na linha defensiva do meio campo do que na ofensiva. É a antitese de Defour. No último jogo, o treinador dos dragões surpreendeu ao colocar Lucho Gonzalez no duplo pivot. O argentino sempre primou pelo seu grande sentido táctico e até é um 8 de formação. Fez um bom jogo recuperando várias bolas e saindo a jogar como se lhe pedia, chegando a aparecer como tanto gosta na área a finalizar. Mas jogar desta forma é muito exigente fisicamente e o capitão portista já com 32 anos, foi perdendo fulgor com o decorrer do jogo e, com a entrada em campo de Defour,  acabou-o na sua posição habitual, no vértice ofensivo do triângulo central.
Mas não se pode olhar apenas para o esquema táctico. Ninguém deve esquecer que o FC Porto perdeu, para esta temporada, João Moutinho. Este era o jogador que ocupava o espaço central de forma exemplar, organizava jogo desde atrás e aparecia a fechar a porta ao adversário quando necessário. Era o jogador chave das temporadas passadas e não foi por mera coincidência que a sua ausência, por lesão, na época anterior, correspondeu ao mês em que o FC Porto de Vítor Pereira apresentou piores exibições, tendo inclusivamente caído na Liga dos Campeões e motivado criticas dos seus adeptos. Mas Moutinho seria sempre difícil de substituir e era esperado que a equipa sentisse a sua falta. É o 8 que falta. Paulo Fonseca sabia disso desde o inicio da pré temporada. 
João Moutinho é o 8 que falta ao FC Porto
Talvez por não ter Moutinho, o treinador tenha desde cedo introduzido e insistido neste esquema mas não me parece que seja o melhor para os jogadores que possui. Tem conseguido compensar, a espaços, com a colocação de Josué a falso extremo, aparecendo este no meio para se integrar no jogo ofensivo interior e deixando o duplo pivot menos pressionado para o fazer, algo que era a sua táctica preferencial no Paços de Ferreira mas isso, no fundo, é ter dois jogadores a fazer o que Moutinho fazia sozinho. Penso que está aqui o grande responsável pela fraca qualidade das exibições portistas. O duplo pivot defensivo não é necessariamente uma má ideia mas quando deixa jogadores fundamentais, como Fernando, fora do seu habitat natural, passa a ser uma ideia, no mínimo, discutível. Paulo Fonseca estaria melhor a jogar pelo seguro e voltar ao meio campo típico do 4-3-3 moderno, com um trinco, um médio centro e um médio ofensivo mas compreende-se que queira impor as suas ideias, mesmo correndo o risco de levantar criticas nos adeptos azuis e brancos. Se as vitórias continuarem a fluir, acabará por conquistá-los e à critica. 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O que se passa em Paços

Após uma época em festa os adeptos deparam-se com outra realidade
Foi a equipa sensação da última temporada ao conseguir um espectacular terceiro lugar na Primeira Liga e uma inédita qualificação para a pré eliminatória da Liga dos Campeões mas esta época, após 7 jogos oficiais disputados, conta o mesmo número de derrotas. Esta inversão de resultados parece ser surpreendente mas acaba por ser algo previsível. Vejamos o que se passa no mundo do Futebol Clube Paços de Ferreira.
Equipa tipo do Paços de Ferreira 2012/2013
Após uma boa temporada, será de esperar que um clube de média dimensão aproveite para vender os seus principais activos e capitalizar assim os bons resultados desportivos. O Paços de Ferreira não foi excepção e, após a brilhante temporada de 2012/2013, viu sair a sua equipa técnica, à altura liderada por Paulo Fonseca, para o Futebol Clube do Porto e também a maioria dos seus principais jogadores, dos quais se destacam as transferências de Josué a acompanhar o treinador para os dragões, de Vítor para o Sporting, de Luiz Carlos para o Sporting de Braga e de Diogo Figueiras para o Sevilha. Além destes viu sair também o guarda redes Cássio e o avançado Cícero, jogadores muito utilizados durante a temporada. Para os substituir, o Paços manteve a toada de outras épocas em que a estabilidade financeira é regra e conseguiu, mesmo assim, algumas contratações que, à partida, garantem qualidade à equipa, casos de Rui Miguel e Gregory, jogadores com historial em Portugal e que regressam ao campeonato nacional após passagens pelo estrangeiro, Rúben Ribeiro e Hélder Lopes, que se tinham destacado na época anterior ao serviço do Beira Mar, de Sérgio Oliveira e Michael Seri, duas esperanças muito utilizadas na equipa B do FC Porto, de Carlão, avançado experiente vindo do Sp. Braga e Bebé, internacional sub-21 por Portugal e emprestado pelo Manchester United. Bons jogadores, sem dúvida, mas são também um grande número de entradas para enquadrar na equipa em pouco tempo e isso é sempre uma causa de instabilidade.
Possível equipa tipo do Paços de Ferreira 2013/2014

Para liderar o novo Paços foi escolhido Costinha, um nome grande do futebol português como jogador mas que não deixa de ser um treinador muito inexperiente. Aqui reside uma das decisões mais controversas da direcção e que está a gerar alguma contestação no clube. Costinha é um treinador que, pelo pouco que mostrou ao serviço do Beira Mar na época anterior, gosta de futebol ofensivo e jogo apoiado. Isto não seria problemático se o Paços não se tivesse destacado em 2012/2013 pela sua grande segurança defensiva. Ou seja, à mudança obrigatória de treinador, a direcção acabou por adicionar uma grande mudança de estilo de jogo da equipa. Em termos tácticos, Costinha mantém, no papel, o 4-3-3 mas, em campo, a equipa comporta-se de outra forma, muito desgarrada, a tentar impor velocidade quando tem a bola e com os sectores algo afastados o que faz com que o meio campo, verdadeira chave da anterior equipa de Paulo Fonseca, pressione menos a saída de bola adversária e apareça menos a apoiar a defesa. Não é de estranhar que o Paços tenha já encaixado 18 golos nos 7 jogos oficiais que disputou até agora, tantos como os sofridos nas primeiras 21 jornadas da época anterior. A atacar, é uma equipa algo previsível, tendo perdido, com a saída de Josué e Vítor, a capacidade de efectuar passes a rasgar a defesa. Parece agora apostar na velocidade dos seus alas e a maioria das suas jogadas acabam anuladas pela defesa adversária. Costinha parece ter compreendido isso e até já abordou o tema dizendo que talvez seja um treinador romântico demais. Talvez até por isso, não tem conseguido estabilizar a equipa base e parece estar ainda à procura do melhor onze. Pelas suas palavras, talvez comece até a procurar outra dinâmica de jogo. Numa equipa com tanta gente nova, é o pior que pode acontecer pois só vem adicionar mais instabilidade ao grupo.
André Leão foi dos poucos jogadores fundamentais que se manteve para esta temporada
Mas o Paços de Ferreira também se pode queixar da sorte. Todos os argumentos previamente utilizados são válidos mas saem diminuídos quando analisamos o calendário que os castores tiveram de enfrentar nestas 7 derrotas. Nas competições europeias jogaram por duas vezes contra o Zenit de São Petersburgo e uma contra a Fiorentina, equipas de outra dimensão futebolistica, com orçamentos estratosféricos quando comparados com os 3 milhões de euros do Paços e equipas a condizer. Para o campeonato nacional, em quatro jogos enfrentou aquelas que são talvez as melhores equipas do panorama nacional, Sp. Braga, FC Porto e Benfica tendo apenas enfrentado uma equipa do seu campeonato, o Olhanense, fora, num jogo muito equilibrado em que saiu derrotada pela margem mínima após ter tido as melhores oportunidades do jogo. Assim, as 7 derrotas acumuladas acabam por ser derrotas naturais. Mas são sempre 7 derrotas e não existe qualquer outro resultado pelo meio a contrabalançar o saldo. As derrotas são esperadas mas a equipa parece estar a perder confiança e a jogar pior de jogo para jogo, principalmente após sofrer um golo. Percebe-se que a maior dificuldade de Costinha tenha deixado de ser a construção da equipa para passar a ser a luta pela manutenção da confiança dos jogadores e principalmente a luta contra a instalação de uma cultura de derrota. O campeonato do Paços de Ferreira começa agora, com a recepção ao Vitória de Setúbal e é isso que Costinha estará a tentar meter na cabeça dos jogadores. Só os próximos jogos dirão se o treinador conseguirá levantar a equipa ou se esta se candidata a acabar a época a lutar para não descer de divisão.
Costinha depara-se com grandes problemas para resolver

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Ambições Lusas na Europa

Nesta semana vamos assistir ao inicio da fase grupos das duas competições europeias de clubes, a Liga dos Campeões e a Liga Europa. Já foram disputadas as pré eliminatórias de acesso às fases de grupos e esses são jogos oficiais que fazem parte do calendário da UEFA mas, para a maioria dos adeptos de futebol, é aqui que começa a paixão dos jogos internacionais de clubes. Mas voltemos às pré eliminatórias. Nessa fase, as equipas portuguesas ficaram-se por um aproveitamento regular. O Paços de Ferreira, em estreia na Champions, teve pouca sorte no sorteio e acabou eliminado por um Zenit que se mostrou amplamente superior e o Braga caiu aos pés do modesto Pandurii da Roménia. Para o Paços, era o desfecho esperado e recebe a consolação de entrar directamente na fase de grupos da Liga Europa, podendo colocar uma linha na sua história que descreve uma honrosa participação na principal competição de clubes mas, para o Braga, a desilusão foi total. Era a equipa portuguesa da qual se esperava melhor performance na Liga Europa e nem a fase de grupos, objectivo mínimo para qualquer equipa que participa nestas competições, conseguiu alcançar. Pelo outro lado temos o Estoril que, em época de estreia internacional beneficiou de dois sorteios favoráveis para aceder aos grupos e Vitória de Guimarães que marca mais uma presença europeia no seu currículo internacional. Olhando um pouco mais para cima, por entre o brilho da Champions, encontramos as duas equipas mais fortes do nosso actual campeonato, Futebol Clube do Porto e Benfica, com entradas directas na fase de grupos e em estilo, aparecendo como cabeças de série no sorteio.
Paços de Ferreira não teve andamento para Witsel e o seu Zenit
O que pode então esperar o futebol português para esta temporada? Analisando os grupos, na Champions, FC Porto e Benfica, beneficiando do seu estatuto de cabeças de série conseguiram evitar os principais tubarões do futebol europeu e têm pela frente grupos que lhes permitem sonhar de forma legitima com uma presença nos oitavos de final da competição. Mas não devem ser olhados como grupos fáceis, principalmente o que saiu em sorte ao campeão nacional, com Atlético de Madrid e Zenit de São Petersburgo a apresentarem-se como duas equipas altamente competitivas e que possuem força suficiente para fazer frente aos dragões. O Benfica parece ter tido um pouco mais de sorte, tendo pela frente o milionário Paris Saint Germain, a equipa mais dificil do grupo, mas também um Olimpiakos que, não sendo fácil, está perfeitamente ao alcance das águias. Como quarta equipa, Anderlecht no grupo benfiquista e Austria de Viena no grupo portista serão equipas que, à partida, terão poucas hipóteses de acabar esta fase nos dois primeiros lugares do grupo mas que podem atrapalhar as ambições de quem quer que seja que perca pontos com elas. São as armadilhas de cada grupo. 
Os grupos para a Liga dos Campeões, edição 2013/2014

Na Liga Europa, a tarefa parece bem mais complicada para os representantes portugueses. Estoril terá pela frente equipas com maior andamento internacional das quais se destaca o Sevilha, candidato ao primeiro lugar do grupo mas também Slovan Liberec e Friburgo, mais acessiveis do que os espanhois mas igualmente com elevado grau de dificuldade para os canarinhos que decerto sentirão a falta de experiência como um grande entrave. O Vitória de Guimarães também está envolvido num grupo que, à partida, parece muito dificil, com Bétis de Sevilha e  Lyon a assumirem-se como candidatos naturais aos lugares de apuramento e com os croatas do Rijeka como equipa mais acessível. Já o Paços de Ferreira terá pela frente uma tarefa complicada, com a Fiorentina a brilhar num grupo em que é claramente favorita e ladeada por Pandurii, equipa que bateu o Braga com muita classe e pelos experientes ucranianos do Dnipro. 
Os grupos para a Liga Europa, edição 2013/2014

Todas os representantes nacionais terão de encarar as suas respectivas provas com realismo, tendo o objectivo claro de conseguir a qualificação nos seus grupos para atingir o primeiro jogo a eliminar, oitavos de final no caso da Liga dos Campeões e 16 avos de final na Liga Europa. Qualquer coisa acima disso deverá ser encarado por responsáveis, jogadores e adeptos, como uma vitória, algo acima das expectativas. Se para FC Porto e Benfica, o objectivo parece perfeitamente concretizável, já para os representantes lusos na Liga Europa, será uma surpresa. Mas o que interessa são os resultados e esses obtêm-se em campo, no relvado, e não comparando orçamentos ou historiais. Que todas estas equipas sonhem com o seu apuramento e lutem por ele. Parece dificil mas não impossível. Venham de lá os jogos.
O sorteio da Liga Europa não foi favorável às equipas portuguesas

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Um Derby à 3ª Jornada

A 3ª jornada da Liga Portuguesa de Futebol Profissional trouxe-nos um derby de relevo que cativou os adeptos, algo pouco comum nos últimos anos já que a condicionante de não haver jogos entre os clubes grandes até à 5ª jornada foi uma realidade das ultimas edições. O Sporting recebia o Benfica no seu estádio e isso é sempre um jogo carregado de significado e emoção. Mas este jogo prometia algo mais. Apesar de ser ainda muito cedo no calendário futebolistico nacional,o jogo apresentava alguns factores que o tornavam diferente do realizado pelas mesmas equipas nas últimas épocas. De um lado, encontrava-se um Sporting altamente motivado, vindo de duas vitórias claras e com perspectivas legítimas de vencer o rival e dar um empurrão definitivo para uma época de sucesso e, do outro lado, um Benfica altamente pressionado pelos próprios adeptos, vindo de uma derrota e de uma vitória arrancada a ferros, com esperança de vencer o derby para estabilizar a equipa de forma decisiva e relançar a candidatura ao título. Nada disso aconteceu. O resultado foi um empate que acaba por não encher a barriga dos adeptos de nenhuma das equipas.
Adrien e Enzo proporcionaram um interessante duelo na primeira parte
O jogo jogado teve poucas oportunidades de golo e não se mostrou de grande qualidade futebolistica  mas mostrou, contudo, alguns pontos interessantes sobre as duas equipas. Pelo lado do Sporting, notou-se melhor as ideias que Leonardo Jardim, o seu treinador, quer implementar. A aposta recai num meio campo subido, com 2 homens mais avançados a pressionar o portador da bola no inicio da fase de construção, escudados por um pivot defensivo puro que serve de pilar para a consistência do meio campo. Para estes papeis, Jardim escolheu William Carvalho, jogador revelação da equipa leonina durante a pré temporada para trinco, Adrien Silva e André Martins para elementos mais adiantados. Estes dois jogadores ocupavam posições semelhantes mas apresentavam uma dinâmica diferente. André Martins subia mais quando a equipa tinha a bola mas logo recuava para uma posição semelhante à de Adrien quando esta a perdia, mas não era um verdadeiro número 10, não aparecendo para assumir a organização de jogo mas sim para combinar com os 3 homens da frente em jogadas rápidas e de poucos toques na bola. Estes dois jogadores foram os responsáveis pelo domínio Sportinguista na primeira parte e não deixavam Matic ou Enzo Perez respirar sempre que estes recebiam a bola, obrigando a que a entregassem em más condições e atrapalhando ou matando grande parte das jogadas benfiquistas. O Sporting jogou bem mas não me parece que André Martins e Adrien sejam jogadores para este tipo de jogo durante 90 minutos, principalmente o primeiro, apesar de tacticamente forte, vai perdendo disponibilidade física de forma evidente ao longo do jogo. A prestação de Freddy Montero é outro ponto a destacar nos leões mas agora a nível individual. O colombiano foi o homem mais avançado do Sporting e mostrou que tem qualidade. Marcou um bom golo mas foram as suas movimentações que me impressionaram. Aqui mostrou ser um jogador inteligente a fugir à marcação e a abrir espaços para os seus colegas. Sabe também recuar para  entrar no jogo colectivo, normalmente em pequenos toques e tabelas com os médios, logo aparecendo de novo na zona de finalização. Um jogador a fazer lembrar Liedson nos seus tempos áureos de verde e branco.
Montero festeja o primeiro golo da partida.
Do lado do Benfica, Jorge Jesus apostou numa das suas habituais tácticas, em 4-4-2, com a nuance de ter Gaitan como falso médio ala, a partir do flanco esquerdo para o centro assumindo-se como um número 10 nas costas dos móveis Lima e Rodrigo, dupla de avançados com quem deveria combinar ao longo das suas deambulações. Penso que a ideia de Jorge Jesus era pressionar a defesa leonina com a mobilidade dos seus dois avançados que abririam espaços para as entradas de Gaitan e até de Salvio, este também a descair mais para a zona central do que é habitual mas é difícil avaliar se esta era uma boa ideia do treinador encarnada visto que, na primeira parte, a equipa não teve muita bola para desenrolar este tipo de lances e depois Gaitan e Sálvio tiveram de sair por lesão. Confrontado com 3 lesões e a perder o jogo, Jorge Jesus não teve medo e passou a jogar num claro 4-2-4, lançando Markovic para a direita do ataque e Cardozo para o centro, o que levou Rodrigo a descair para a esquerda e apostou num futebol mais directo. Foi uma boa leitura de jogo pois permitiu que a bola passasse menos tempo no meio campo, onde o Sporting dominava e caísse mais vezes nos avançados das águias que combinavam entre si para abrir buracos na defesa leonina. Este sistema obrigou William Carvalho a recuar para ajudar a sua defesa e fez com que o meio campo sportinguista passasse a estar mais tempo numa situação de 2 para 2 ao invés da superioridade numérica de 3 para 2 da primeira parte. Isto, aliado ao esgotamento físico de André Martins fez com que o Benfica ganhasse o domínio de jogo e acabasse por empatar, curiosamente numa jogada individual. Destaque-se também no Benfica o regresso de Cardozo aos relvados, ainda muito fora de forma e a entrada de Markovic que mostrou excelentes pormenores e pode-se tornar num caso sério deste campeonato.
Markovic arranca para uma vistosa  jogada individual que culminaria com o golo do empate
O empate acaba por ser o resultado justo num jogo de pouca qualidade futebolistica mas de muita qualidade táctica. Leonardo Jardim e Jorge Jesus ofereceram um grande duelo de treinadores com o técnico dos leões a montar melhor a equipa e com Jorge Jesus a ler melhor o jogo, com este em andamento. Para as equipas, o empate não foi a vitória que o Benfica precisava para afastar definitivamente a pressão e para o Sporting não chegou para dissipar as dúvidas sobre se a equipa será realmente candidata a chegar ao fim do campeonato na disputa do título. 

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A Panela de Pressão

Estava a pensar no que se está a passar no actual Benfica quando me lembrei de um episódio do nosso futebol. Certo dia, perguntaram a Carlos Manuel, no já longínquo ano de 1997, qual o segredo para o bom futebol que a equipa treinada por si na altura, o Salgueiros, apresentava, já que o plantel era praticamente o mesmo da época anterior. Carlão respondeu de forma descontraída, dizendo que o principal era que os jogadores tinham prazer em jogar futebol e se divertiam a fazê-lo. Parecia uma resposta evasiva a qualquer segredo táctico mas continha em si uma grande verdade por vezes esquecida. Um conjunto de jogadores descontraído treina melhor durante a semana e joga melhor quando chega a altura dos jogos, isto quando comparado com o mesmo conjunto pressionado, claro está, já que a valia individual e a organização colectiva continuam a ser os pilares de uma boa equipa. Voltando ao Benfica, penso que está hoje no extremo oposto ao episódio descrito. Os principais jogadores da época passada ficaram, as lacunas do plantel foram resolvidas com a contratação de novos jogadores, o treinador é o mesmo, o sistema táctico usado não foge aos sistemas tácticos usados anteriormente, mas o futebol apresentado é muito diferente. Para pior. A equipa  rende menos, parece amarrada e até a grande vertigem dos seus jogos de épocas anteriores, causada pela velocidade que impunha ao seu jogo, desapareceu. Não me parece que os jogadores estejam de cabeça limpa e os episódios de indisciplina vão-se acumulando, como se viu no último jogo em casa, frente ao Gil Vicente em que Gaitan reage mal a ser substituído e onde o capitão Luisão se desentende com os adeptos, protestando com estes de forma bem visível. O que se passa é que a equipa está pressionada.
Tantas vezes a grande força do Benfica, os adeptos são também o seu maior inimigo

O final da época passada foi terrível para o Benfica. Após ter chegado ao final da época a disputar três competições, apresentando legítimas aspirações de as vencer a todas, acabou por não ganhar nenhuma. Talvez mais do que isso, aos adeptos doeu a forma como as perdeu. O campeonato em pleno Estádio do Dragão frente ao grande rival FC Porto, sofrendo o golpe fatal nos descontos de um jogo eléctrico, perdendo a final da Liga Europa, de novo nos descontos e sendo derrotado na final da Taça de Portugal por um Vitória de Guimarães que nunca se mostrou superior. E aqui, no Jamor, talvez por ter sido o último jogo da época, caiu a gota de água que fez transbordar o copo. Cardozo desentende-se com o treinador Jorge Jesus à frente de todos e os adeptos mostram claramente que perderam a paciência. Jorge Jesus, após quatro anos ao leme da equipa, parece ter perdido todas as condições para o continuar a fazer.  Neste ponto começa a responsabilidade da direcção do Benfica, talvez a principal culpada da situação actual em que a sua equipa de futebol está envolvida. Luís Filipe Vieira e seus pares deveriam ter tomado uma posição forte e, principalmente, rápida no que respeita à manutenção ou não da equipa técnica. Pelo contrário, deixou arrastar a decisão, deixando que se transformasse num caso, amplamente explorado pelos media e que foi criando uma divisão nos adeptos encarnados, aumentando o número e o ruído dos que pediam a sua saída. Acabou por decidir manter o treinador renovando o seu contrato por mais dois anos mas o mal estava feito. Os muitos adeptos que pediam a sua cabeça estavam agora à espera que falhasse de novo para se voltar a manifestar. 
Cardozo interpela Jorge Jesus após a derrota na Taça de Portugal
De seguida, acaba por não ser célere a resolver o caso Cardozo. Após o que aconteceu no final do jogo do Jamor, entre Cardozo e Jorge Jesus, dificilmente seria de esperar que ambos se mantivessem no clube e, após a renovação do treinador, ficou claro que Cardozo teria de sair. Mais uma vez, a direcção do Benfica não foi firme na resolução deste caso, talvez com medo de perder um activo do clube por pouco dinheiro, e deixou-o empolar, de novo dividindo os adeptos, agora de forma muito mais desequilibrada, com a maioria a pedir que o paraguaio fique no clube, algo que ainda nem ficou totalmente decidido. Com isto, gerou-se uma pressão enorme sobre o Benfica que ficou proibido de errar. Essa pressão sentiu-se na pré-temporada onde a equipa jogava jogos amigáveis sobre brasas, muitas vezes assobiada pelos próprios adeptos que não lhe davam qualquer margem de erro. Os resultados de jogos da pré temporada, coisa que normalmente, pouco interessa, tornaram-se grande motivo de análise e mais uma vez o rendimento da equipa foi questionado.
Treinador e equipa têm estado debaixo de uma intensa pressão

Não foi, assim, surpresa a forma como o Benfica se apresentou para o seu primeiro jogo oficial frente a um difícil Marítimo. Jogou sem dinâmica ofensiva e com muito nervosismo defensivo e o resultado foi uma derrota à primeira jornada. Neste momento, já o Benfica se assemelhava a uma panela de pressão, com esta sempre a aumentar e com os seus intervenientes principais no papel de ingredientes, a serem cozinhados por uma massa associativa que já não tolera mais falhas. O Benfica precisava de vitórias urgentemente e a primeira aconteceu em casa, à segunda jornada. Mas a vitória, aqui, já não chegava. O Benfica precisava de uma vitória clara, sem contestação mas, mesmo tendo sido amplamente superior a um Gil Vicente que pouco atacou, viu-se a perder, sofrendo golo num lance algo caricato, que transmitiu a ideia de ter acontecido devido ao nervosismo dos jogadores, e acabou por vencer o jogo marcando dois golos no período de compensação. A vitória tirou alguma pressão à panela mas não a suficiente. Esta ainda cozinha. Sem a celeridade na resolução dos casos acima descritos, a direcção do Benfica acabou por fazer com que o final da época de 2012/2013, se tenha arrastado para o principio da época de 2013/2014, quase come se fossem a mesma temporada.

Alvalade será o palco de um derby que promete ser explosivo
E agora, chegando à terceira jornada, o Benfica entra num verdadeiro campo minado. A ida a Alvalade para enfrentar um Sporting líder do campeonato e extremamente motivado, apresenta-se como uma armadilha tremenda e ameaça fazer rebentar a panela de pressão, com possíveis consequências para a sua equipa técnica e para as aspirações ao título. Mas aqui, apresenta-se também a oportunidade dourada de esvaziar a pressão e relançar uma candidatura ao título de forma definitiva. Para o fazer, o Benfica teria de ir a Alvalade e derrotar o seu eterno rival e isso não se afigura tarefa fácil. Olhando para a valia individual de ambas as equipas, o Benfica tem condições para o fazer mas, para isso, tem de conseguir entrar em campo de cabeça limpa e aqui está, talvez, o maior desafio de Jorge Jesus. Conseguirão as águias abrir a panela de pressão ou esta explodirá nas suas mãos? O derby desta jornada poderá conter a resposta.